A MAIOR CANÇÃO OU PLÁGIO?

 

 

CONSIDERADA POR ALGUNS A MELHOR DE TODOS OS TEMPOS, MÚSICA É ACUSADA POR OUTROS DE TER SIDO COPIADA DO FOLCLORE

Não é pequena a polêmica que envolve Águas de Março. Alguns críticos identificam na canção de Tom Jobim um plagio de Água do Céu, gravada, em 1956, no disco Cínco Estrelas Apresentam Inara, da compositora Inara. A polémica esquentou em 2001, quando o jornal Folha de S.Paulo fez uma enquete em que a canção apareceu como a melhor música brasileira de todos os tempos. Tanto a letra ("É chuva de Deus, é chuva abençoada/ É água divina, é alma lavada") quanto a melodia de Água do Céu, arqumentam seus detratores, serìam muito parecidas com as de Áquas de Março.

Em entrevista ao jornal, o pesquísador José Ramos Tìnhorào afirmou que a versão de Inara, por sua vez, já era adaptação de um ponto de macumba que diz "É pau, é pedra, é seixo miúdo/ Roda baiana por cima de tudo". Outro crítico, Luís António Giron, concordou, dizendo: "(Áquas de Março) é macaqueada do folclore. Villa-Lobos se apropríava de temas folclóricos, mas citava a fonte".

Zuza Homem de Mello também foi ouvido e rebateu a acusação de plágio. "É delirio puro. Há várias canções de Tom Jobim às quais é atribuida a palavra plágio. É homenagem, Não é plágio." Entre as outras canções a que Zuza se refere, há uma segunda no mesmo LP, Matita Peré, chamada Nuvens Douradas, que foi colocada sob suspeita. Nesse caso, a canção plagiada - ou homenageada - tería sido Prece, de Vadico e Maríno Pinto.

Se Tom Jobim tomou idéias músicais e poéticas emprestadas sem pedir licenca nem mencionar fontes a ponto de merecer acusações de plágio, trata-se de uma boa polêmica. Mas que não obscurece o brilho da marca pessoal do compositor, que se evidencia no conjunto da sua obra e, muito especialmente, em canções tão inovadoras quanto Áquas de Março.


[da: “100 CANÇÕES ESSENCIAIS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA”, in rivista BRAVO!, numero speciale, maggio 2008]