SINAL FECHADO

PAULINHO DA VIOLA

 

 

ÚLTIMO SUCESSO DA ERA DOS FESTIVAIS, CANÇÃO ANTECIPA CRITICA À VIDA APRESSADA NAS GRANDES CIDADES

O público brasileiro foi conhecendo Paulinho da Viola aos poucos nos anos 60. Primeiro vieram os shows no Zicartola; depois, o espetáculo Rosa de Ouro e os discos com o conjunto A Voz do Morro e com Elton Medeiros. O primeiro grande sucesso de sua carreira-solo viria ao vencer um festival com Sinal Fechado, curiosamente uma exceção na obra de Paulinho.

A era dos festivais, entre 1965 e 1972, consagrou compositores e canções e mobilizou platéias como torcidas em um jogo de futebol. Depois do auge, em 1967 e 1968, o endurecimento do regime militar e o esgotamento do modelo levaram ao declínio do formato, até ser abandonado pelas emissoras em 1972.

No ano de 1969, O 5o Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, já retratava essa decadência. A premiação valia um quarto do que no ano anterior. Poucos compositores conhecidos se inscreveram nessa edição, que, além de tudo, proibia a guitarra elétrica. Favoreceu, assim, o samba, gênero que emplacou metade dos finalistas.

Um dos membros da comissão julgadora chegou a declarar que, se aquele festival falhasse, dificilmente outro seria realizado. Ele estava certo. Tentando-se renovar o formato, somente se fez um programa enfadonho: O único legado do último festival promovido pela emissora foi a vencedora - Sinal Fechado. Acordes dissonantes e uma letra atípica. Quem esperava mais um samba de Paulinho se surpreendeu com a sofisticação vanguardista de Sinal Fechado. Fugindo da tradição a que se filiava, o jovem compositor acrescentou dissonâncias a todos os acordes, dando um clima tenso à canção. Diz ele que a influência do convívio com compositores do tropicalismo havia sido decisiva. Em vez dos temas amenos que costumava tratar, trazia uma crítica à vida contemporânea nas grandes cidades.

Sinal Fechado aproxima-se da crônica, tanto na forma como no conteúdo, ao apresentar um diálogo ambientado no trânsito de uma cidade. Os interlocutores, dois conhecidos que não se vêem há algum tempo, travam uma breve conversa de dentro de seus carros, até o sinal abrir. "Olá, como vai?/ Eu vou indo e você, tudo bem?/ Tudo bem, eu vou indo, correndo/ Pegar meu lugar no futuro, e você?/ Tudo bem, eu vou indo em busca/ De um sono tranqüilo, quem sabe?". Pressa, insegurança, distanciamento: de maneira poética, a letra trazia um protesto contra o ritmo de vida das metrópoles.

Depois do festival, Sinal Fechado acabou sendo lançada num compacto simples de Paulinho e não entrou no seu LP seguinte, Foi um Rio que Passou em Minha Vida. Só em reedições acabaria sendo incluída como faixa bônus. A versão original traz Paulinho da Viola, voz e violão, com um acompanhamento de cordas, costume da época. No CD da trilha do filme Paulinho da Viola - Meu Tempo É Hoje (2003), de Izabel Jaguaribe, a música ganha muito em intensidade ao aparecer despida de grandes arranjos, interpretada apenas por seu autor. "Quanto tempo.../ Pois é, quanto tempo...". Quase 40 anos depois, Sinal Fechado é mais atual do que nunca.


[da: “100 CANÇÕES ESSENCIAIS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA”, in rivista BRAVO!, numero speciale, maggio 2008]