DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: GUILHERME ARAÚJO – COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: ROBERTO MENESCAL – DIREÇÃO MUSICAL: GILBERTO GIL – FOTOS: EDSON SANTOS (PEDRO GIL), EDUARDO CLARK (GIL), SILVINHA TINOCO (MÚSICOS) – CAPA: EDINIZIO RIBEIRO PRIMO – PLANEJAMENTO GRÁFICO: ALDO LUIZ

A banda de Pífanos Zabumba de Caruaru (PE), da família Biano, abre o cortejo em dois minutos instrumentais de sua Pipoca moderna (que seria letrada por Caetano Veloso). É a locomotiva do Expresso 2222 (de bela capa-objeto de Edinízio Ribeiro), "que parte direto/ (...) pra depois do ano 2000": Recém-chegado do exílio político londrino, em 1972, Gilberto Gil, o mais ideológico dos tropicalistas, alistava-se na cruzada do futuro. Violão e voz afiados, misturava, em altas doses, nordestinidade e pop. A precoce discussão da miscigenação já partia de autores populares, como o também baiano Gordurinha, em Chiclete com banana, de 1958, provável parceria com o criador do clássico, Jackson do Pandeiro, oculta sob o nome de sua mulher na época, Almira Castilho. O cintilante O canto da ema, de João do Vale (com Aventino Cavalcanti e Ayres Viana), tem espinha dorsal da guitarra incendiária de Lanny e mixa rock e xaxado nas reviradas do baterista baiano Tutty Moreno. E um "for-rock" (também xaxado) baila em Sai do sereno, com adesão de Gal Costa.

No programático cardápio de apenas nove itens, a canção de exílio Back in Bahia subverte o habitual banzo, num rock acendrado que evoca saudades da precursora Celly Campeio. O sonho acabou fuzila os retardatários - "Quem não dormiu no 'sleeping bag'/ Nem sequer sonhou". O acústico Oriente dá o norte mochileiro da vida on the road: "Considere rapaz/ A possibilidade de ir pro Japão/ Num cargueiro do Lloyd/ Lavando o porão". E o rock/coco Expresso 2222 decreta o porvir: "O trilho é feito de um brilho/ Que não tem fim/ (...) Nunca se chega no Cristo concreto/ De matéria ou qualquer coisa real". A grande arte é impalpável. (T.S.)

[da: “300 DISCOS IMPORTANTES DA MÚSICA BRASILEIRA”, pag 220]