Tropicalia ou Panis et circensis

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PHILIPS (1968)

PRODUÇÃO: MANOEL BARENBEIN – ARRANJOS E REGÊNCIA: ROGÉRIO DUPRAT – FOTO: OLIVIER PERROY

 

 

Não poderia haver mês e ano mais adequados à gravação de Tropicália ou Panis et circensis: maio de 1968. Enquanto os estudantes saíam às ruas de Paris para decretar que a imaginação estava no poder, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé, Capinan, Torquato Neto, Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat enchiam o estúdio da RGE em São Paulo para instaurar um novo tempo na música brasileira. E não só nela: o movimento da trupe teve influência nas artes plásticas, no cinema, na moda. Avesso da bossa nova, radicalização da Jovem Guarda, retorno antropofágico à Semana de Arte Moderna de 22, gozação generalizada, anarquia... O Tropicalismo foi tudo isso e algo mais. No caso do disco-manifesto, apenas uma de suas facetas, a senha estava dada na capa: os membros da trupe, de corpo presente ou em fotos emolduradas, posavam para uma foto de família, tudo muito normal, tudo muito respeitável - não fosse o penico que Duprat usava como xícara de chá, não fossem os instrumentos elétricos dos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, baixo e guitarra empunhados como metralhadoras numa Sierra Maestra do Trópico de Capricórnio. Dentro da capa, nos microssulcos do vinil, informações musicais eram fragmentadas e reagrupadas em faixas como Miserere nobis, Panis et circensis, Baby, Bat macumba e Geléia geral, na qual uma das estrofes explicava e confundia tudo: "Doce mulata malvada/ Um LP de Sinatra/ Maracujá, mês de abril/ Santo barroco baiano/ Superpoder de paisano/ Formiplac e céu de anil". E, ao cabo de tanta modernidade, a turma entoava o tradicional Hino do Senhor do Bonfim, sacou? (A.D.)


[da: “300 DISCOS IMPORTANTES DA MÚSICA BRASILEIRA", pag 155]