ARAÇÁ AZUL (1972)

texto de Tárik de Souza

Em Araçá Azul, Caetano retoma a ruptura estética tropicalista que motivou sua prisão e exílio, como se testasse os limites do público. Liga o primal prato-e-faca ritmico de Edith de Oliveira à bricolagem da vanguarda. Sugar cane fields forever troca os campos de morango dos Beatles pela cana-de-açucar. E o vate futurista maranhense Sousândrade (1832 – 1902) engata num samba-de-roda. Júlia/Moreno, o dilema da paternidade (deu Moreno), expressa-se num poema gráfico à Batmacumba. Outro Sousândrade, Gil mistrioso (“Gil engendra/ em Gil rouxinol”) circula num rondó.

A latinidade salta do son Tu me acostumbraste, do cubano Frank Dominguez, de 1957. Contrasta com os fragmentos Fe comersa, acoplado ao refrao da miltoniana Cravo e canela, e De palavra em palavra (Caetano), DEDICADA A AUGUSTO DE Campos. Orquestrado por Rogério Duprat, com descargas e buzinas de tráfego paulista, Épico ironiza o engajamento ecológico e dispara um míssil metafórico de longo alcance: “Botei todos os fracassos/ na parada de sucessos”.