ARAÇÁ AZUL (1972)

“Outro dia, quando ia estrear o filme novo do Godard, li nos jornais as pessoas dizendo bobagens para justificar a sua própria preguiça em relação ao experimentalismo, defendendo um conservadorismo medíocre. Eles. todos falam de defesa da emoção contra o cerebralismo. E eu, que choro de emoção vendo 50 vezes Pierrot, le fou e Je vous salue, Marie, morro de rir vendo Paris Texas, que é ridículo. Tenho por isso o maior orgulho de ter feito um disco como Araçá azul. Não acho que o trabalho tenha saído com limpidez. Fiz o disco sozinho num estúdio e não sabia usar bem o estúdio. Acho maravilhosa uma faixa como De conversa, uma peça que não tem propriamente musica nem letra. Só uma superposição de vozes e de grunhidos, com sugestão de música. Apenas no final tem uma citação de Cravo e canela, que era uma homenagem a Milton Nascimento, uma oração para que ele ficasse alegre, porque Milton era muito triste. Graças a Deus, a oração foi atendida e que Deus o conserve assim. Tem Tu me acostumastes, bacana, cantada em falsete, um clima tão gay... Julía Moreno ganhou um solo de piano de Perna Fróes que é um deslumbramento. Ganhou um grande elogio do Tárik de Souza (crítico do JORNAL DO BRASIL) e fui até ingrato com ele, porque achava que eu não merecia aquele elogio. O problema e que o públíco comprava e devolvia o Araçá azul. É outro fato histórico: o maior recorde de devolução de discos da MPB. Nessa época já estavam comprando Caetano e Chico em caminhão. Vai ver foi por isso que houve tanta devolução: houve muita procura."

[Caetano Veloso, depoimento à Marcia Cezimbra em A obra de Caetano imortalizada em CD, Jornal do Brasil, 16/5/91]