Caetano Veloso (em Londres) (1971)

texto de Caetano Veloso

Primeiro disco que fiz em Londres. Tem coisas muito interessantes, como a gravação de Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que também rendeu muitos comentários par aqui. Quando o disco saiu, era a gravação de que eu mais gostava. Temn London, London, tem a faixa Maria Bethânia, que também acho muito bonita, com arranjos lindos, onde faço improvisações acompanhado por um quarteto de cordas excelente, sugerido pelo produtor e que havia participado das gravações do disco Eleanor Rigby, dos Beatles.

Foi produzido por Ralph Mace e por Lou Reizner, um produtor americano famoso, que estava morando em Londres e morreu pouco tempo depois. O Ralph dirigia o Fames, um selo da Paramounth. Os produtores de lá adoraram o nosso trabalho, meu e do Gil. Fizeram esse meu primeiro LP gravado là, fizeram o do Gil e também o meu segundo, o Transa.

Na edição que saiu aqui, pela PolyGram, tem mutilações em duas faixas, A little more blue e Maria Bethânia. Foram cortadas pela censura, grosseiramente. Tiraram trechos inteiros, porque os censores aqui ouviram expressões que eu não disse. Quando falo em Liberta Lamark, que era uma atriz argentina, eles pensaram que eu estava pedindo "liberdade para Lamarca".

Os produtores desse disco é que insistiram para que eu tocasse violão nas gravações. Mostrei as cancões que seriam para o disco e expliquei: "Olha, estou mostrando aqui, mas quem vai tocar é o Gil." Mas eles disseram: "Você é que tem que tocar." Fui lá e toquei tudo, o meu violão está inteiro nesse disco, toco em Asa Branca, em Maria Bethânia, em London, London. E ainda batuco.

Eles, os produtores, me deixaram muito à vontade. Como músico, não fiquei intimidado como costumava ficar no Brasil. Essa bossa nova mal-tocada, esse baião ou essa toadinha moderna mal-tocada que fazemos aqui, eles acham maravilhoso. Se eu tivesse ficado aqui, não teria me desenvolvido musicalmente.


depoimento de Caetano Veloso a Charles Gavin r Luís Pimentel em TANTAS CANÇÕES (livro da Caixa TODO CAETANO 2002), pagg. 32-33