A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (Vol. 1: 1901-1957) relaciona, classifica e analisa as canções que o povo brasileiro consagrou através dos anos, de 1901 a 1957 (o Vol. 2 cobrirá o período 1958-1985) oferecendo uma abrangente visão musical de toda essa época. É, pode-se dizer, a história da música popular brasileira na primeira metade do século XX, contada por suas canções de maior sucesso. Das modinhas e lundus de Eduardo das Neves, Cadete e Baiano da Casa Edison às composições pré-bossa nova de Dolores Duran, Luís Bonfá e Antônio Carlos Jobim nos anos cinqüenta.

Dividido em quatro partes, cada uma correspondendo a uma determinada fase de nossa música, o livro apresenta 35 capítulos assim distribuídos: 1a Parte: 1901 a 1916 - 3 capítulos; 2a Parte: 1917 a 1928 - 3 capítulos; 3a Parte: 1929 a 1945 - 17 capítulos; e 4a Parte: 1946 a 1957 - 12 capítulos. Tendo em vista a ocorrência de um número menor de sucessos no começo do século, agrupam-se vários anos por capítulo na primeira e na segunda partes, passando, a partir de 1929, cada ano a corresponder a um capítulo. Na abertura de cada parte há um texto que conceitua as suas características.

A estrutura dos capítulos é dividida em cinco segmentos. No primeiro são apresentadas e comentadas as composições de maior destaque. Seguem-se as relações de outros sucessos, de gravações representativas, de músicas estrangeiras que marcaram presença no Brasil e, por fim, uma cronologia geral. Complementam a obra índices remissivos das canções e das pessoas focalizadas.

Foram relacionadas neste volume 1083 composições brasileiras de sucesso, das quais se destacaram e são comentadas 267. A esse número somaram-se 400 canções estrangeiras que alcançaram sucesso no Brasil, atingindo-se o total de 1483 composições. Nessa seleção incluíram-se, basicamente, dois tipos de canções: as que obtiveram sucesso ao serem lançadas - não importando sua qualidade ou permanência - e as que não obtiveram sucesso imediato, mas que, em razão de sua qualidade, acabaram por merecer a consagração popular. Outra resolução adotada foi a de restringir a escolha aos sucessos de âmbito nacional, ignorando-se os exclusivamente regionais.

Para a localização das composições no tempo foram considerados os anos em que fizeram sucesso, os quais nem sempre correspondem aos anos em que foram compostas ou gravadas pela primeira vez. Isso acontece, por exemplo, com os habituais lançamentos de fim de ano (corno o do repertório carnavalesco), cujas canções geralmente começam a se projetar nos primeiros meses dos anos seguintes. Há ainda os casos de composições do início do século - como a valsa "Saudades de Mato o" e alguns tangos de Ernesto Nazareth - que se tornariam clássicos tempos depois, sem jamais se sobressaírem num ano determinado. Nesses casos decidiu-se pela localização nos anos em que foram compostas. No repertório internacional constatou-se o fato freqüente de músicas - principalmente latino-americanas — que se popularizaram no Brasil vários anos depois de seu surgimento nos países de origem.

Considerando-se dispensável o levantamento de uma discografia completa das composições relacionadas, optou-se por uma seleção que constitui o segmento "Gravações Representativas". São apresentados nessa seção 467 fonogramas, através dos quais pode-se acompanhar a trajetória dos principais cantores nacionais. Finalmente, achou-se importante acrescentar à obra uma cronologia que, além dos fatos musicais, registra acontecimentos ocorridos no país e no exterior.

Iniciados em 1986, os trabalhos de pesquisa e redação desta obra estenderam-se até 1997, com várias interrupções impostas por compromissos profissionais dos autores. Foram assim ouvidos muitos depoimentos de personagens que participam desta história - cantores, músicos, compositores - a maioria ao vivo, porém uma parte em gravações pertencentes aos acervos do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, do Nirez-Museu Cearense da Comunicação e da Rádio Jornal do Brasil. Seria exaustivo citar os nomes de todos esses depoentes (91), mas, para dar uma idéia de sua importância, selecionamos alguns: Ataulfo Alves, Braguinha (João de Barro), Dorival Caymmi, Herivelto Martins, Ismael Silva, Jacó do Bandolim, Marília Batista, Marlene, Orlando Silva, Pixinguinha e Radamés Gnattali. Além dos depoimentos, houve muita conversa informal, não gravada, com outros personagens como Mário Lago, Tom Jobim, Fernando Lobo, Roberto Martins, Pedro Caetano, Roberto Paiva e Almirante (Henrique Foreis Domingues), este em época anterior ao projeto.

A complementação da pesquisa seria realizada em dezenas de livros, jornais e revistas, consultados em suas coleções existentes na Biblioteca Nacional, ou em centenas de recortes dos acervos dos autores e do Arquivo Almirante, no MIS do Rio de Janeiro. Em vários desses periódicos encontram-se publicadas as paradas de sucesso, a partir de 1946, de consulta indispensável para a escolha das composições. Também importantes foram as informações, críticas e sugestões de amigos que acompanharam o desenvolvimento do projeto como o professor Aloysio de Alencar Pinto, o compositor Klecius Caldas, o jornalista Carlos Alberto de Mattos e os pesquisadores Gracio Barbalho, Abel Cardoso Júnior, Miguel Angelo de Azevedo (Nirez), Paulo César de Andrade, Vicente de Paula Machado e Vicente Salles.

Dedicando esta obra a todos os que amam a música popular brasileira, os autores se sentirão recompensados se o seu trabalho inspirar a realização de novos projetos que contribuam para o conhecimento, difusão e preserva-cão de nossa memória musical.

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