O período 1946-1957 funciona como uma espécie de ponte entre a tradição e a modernidade em nossa música popular. Nele convivem veteranos da Época de Ouro, em final de carreira, com iniciantes que em breve estarão participando do movimento bossa nova.

Suas maiores novidades são as modas do baião e do samba-canção depressivo, o chamado samba-de-fossa. A primeira vigorou de 46 a 52 e a segunda, entre 52 e 57. Essas modas projetaram personagens que se tornaram bem representativos do período, entre os quais o cantor/compositor/sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira, que estilizaram e popularizaram a música nordestina, o compositor/radialista/jornalista Antônio Maria, autor dos melhores sambas-de-fossa, e sua intérprete preferida, a cantora Nora Ney. Na realidade, já existia na época um clima favorável a esse tipo de canção, com a invasão do bolero e a repercussão da polêmica musical Dalva/Herivelto. Mas, sem as letras de Antônio Maria e a voz de Nora Ney, dificilmente o samba-de-fossa se transformaria em mania nacional.

Ao mesmo tempo em que proliferavam esses gêneros, surgia em proporção mais modesta uma geração que pode ser considerada precursora da bossa nova. Dela fazem parte cantores como Dick Farney, Lúcio Alves, Dóris Monteiro, Silvia Teles, Luís Cláudio e Agostinho dos Santos, o conjunto-vocal Os Cariocas; os músicos Chiquinho do Acordeom, Johnny Alf (também cantor), Luís Bonfá, Moacir Santos, João Donato, Paulo Moura; os compositores/cantores Tito Madi, Dolores Duran e Billy Bianco, o arranjador Lindolfo Gaya e, naturalmente, Antônio Carlos Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Newton Mendonça e Carlos Lira, que desempenhariam papel decisivo na criação da bossa nova. Vindos de época anterior, também devem ser incluídos entre os precursores o maestro Radamés Gnattali e os músicos Garoto, Valzinho, Laurindo de Almeida e Vadico (Osvaldo Gogliano).

Outro fato que acontece no período é o declínio da música de carnaval. Com a aposentadoria ou o desinteresse dos grandes compositores das décadas precedentes, a canção carnavalesca começa a perder qualidade. Dos veteranos que continuavam compondo para o carnaval, sobravam apenas Braguinha (João de Barro), Haroldo Lobo e, eventualmente, Wilson Batista. Então, a qualidade só não despencou de vez, graças ao talento de quatro es^ treantes, os compositores Klecius Caldas, Armando Cavalcanti, Jota Júnior e Luís Antônio, os únicos à altura de seus ilustres antecessores.

Na área da tecnologia ligada à indústria do lazer, estacionaria durante os anos de guerra, são excepcionais as inovações que chegam ao país: a televisão (em 1950), o elepê de 33 rotações (1951), o disco de 45 rotações (1953) e o aperfeiçoamento do processo de gravação do som, com o emprego da fita magnética e da máquina de múltiplos canais, em substituição ao antigo registro em cera. Acompanhando essas inovações, passam a ser fabricadas modernas eletrolas, os chamados aparelhos "hi-fi", com evidente melhoria na reprodução das gravações.

E ainda no período que o rádio vive sua fase de maior prestígio. Isso acontece principalmente em razão dos programas de auditório, em que estrelas da música popular como Cauby Peixoto, Francisco Carlos e as rivais Marlene e Emilinha Borba desfrutam o auge da popularidade. Com a comercialização exagerada da radiodifusão, cresce a influência dos programadores e disc-jockeys sobre a preferência musical dos ouvintes. E através de seus programas que são criados muitos sucessos, geralmente de música estrangeira — que a partir de então passa a entrar no Brasil em quantidades bem superiores às de antes da guerra.

Além dos nomes citados, destacam-se no período os seguintes artistas:

COMPOSITORES E LETRISTAS: Adoniran Barbosa, Adelino Moreira, Fernando Lobo, Monsueto Menezes, Luís Vieira, Luís Bandeira, Zé Kéti e Zé Dantas; CANTORES: Gilberto Milfont, Ivon Curi, Jorge Goulart, Jorge Veiga, Jamelão, Blecaute, Jackson do Pandeiro, Alcides Gerardi, Ruy Rey, Bob Nelson, Roberto Silva, Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Carmélia Alves, Ellen de Lima, Lana Bittencourt, Maysa, Neusa Maria e os conjuntos vocais Demônios da Garoa, Trio Irakitan e Trio Nagô; INSTRUMENTISTAS: Altamiro Carrilho (flauta), Severino Araújo (clarinete), Sivuca (Severino Dias de Oliveira) e Orlando Silveira (acordeom), Cipó (Orlando Costa), Zé Bodega (José Araújo) e Moacir Silva (sax-tenor), Astor Silva e Edmundo Maciel (trombone), Maurilio Santos (trompete), Fafá Lemos (Rafael Lemos Júnior) (violino) e Valdir Azevedo (cavaquinho).

De um grande número de artistas vindos da Época de Ouro, destacamse os compositores Dorival Caymmi, Ataulfo Alves, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Herivelto Martins, João de Barro e Lupicínio Rodrigues, os cantores Nelson Gonçalves, Gilberto Alves, Roberto Paiva e Dalva de Oliveira e os instrumentistas Jacó do Bandolim, Abel Ferreira, Nicolino Copia, Horondino Silva, Benedito Lacerda, Jaime Florence e o cavaquinista Waldiro Fredérico Tramontano (Canhoto) que não deve ser confundido com os Canhotos violonistas (Américo Jacomino e Rogério Guimarães).

Ao aproximar-se o final da decada novidades mais amenas como a bossa nova, a jovem guarda e us festivais de canções.