ILMO. SR. CIRO MONTEIRO OU RECEITA PRA VIRAR CASACA DE NENÉM Ê (1969)

 

 

Chico foi ao teatro ver um show de Ciro Monteiro, sambista que se notabilizou por cantar batucando numa caixa de fósforos. O cantor aproveitou a oportunidade para dizer que gostaria muito de gravar um samba de Chico, mas que já não tinha memória para letras muito compridas, e brincou: "Eu quero cantar seus sambas, mas não posso. Eles são em capítulos. São grandes, e eu atualmente não posso decorar nem meu nome...". E completou: "Ô Chico, você faz um samba pra mim em que a palavra de maior número de sílabas seja 'oi'". O compositor retrucou dizendo que não, que melhor seria a palavra "nu".

Quando Silvia Buarque nasceu, Ciro, flamenguista roxo, seguindo seu velho hábito, presenteou a recém-nascida com uma camisa do seu time. Chico, que é Fluminense, aproveitou a deixa para pagar a promessa e agradeceu o mimo com esse bem-humorado samba.

Na gravação do álbum Para os jovens, Ciro colocou no final uma fala dizendo: "Ô Chico, a Silvinha vai crescer e entender", e terminava com uma gargalhada. Num programa exibido pela TV Educativa em 26-7-1973 o cantor afirmava: "Acontece que a Silvinha entendeu e é Flamengo. E ele [Chico] me chamou de aliciador de menores".

Tão grave acusação deveria ser checada antes de publicada. Enviei o verbete ao Chico, que respondeu: "Calúnia! Silvinha é tricolor!".

Argumentei que ele mesmo, no programa Ensaio de 1973, da TV Cul- tura, dissera que "desgraçadamente [ela] é Flamengo". Chico já não se lembra da entrevista, e garante que a filha é Fluminense. Mas admite que ela possa ter sido Flamengo por um dia, certamente referindo-se ao hino do clube, que diz: "Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer".


[Wagner Homem, Histórias de canções - Chico Buarque, Texto Editores Ltda (Leya), São Paulo, 2009]