Lua cheia

Ninguém vai chegar do mar
Nem vai me levar daqui
Nem vai calar minha viola
Que desconsola, chora notas
Pra ninguém ouvir

Minha voz ficou na espreita, na espera
Quem dera abrir meu peito
Cantar feliz
Preparei para você uma lua cheia
E você não veio
E você não quis

Meu violão ficou tão triste, pudera
Quisera abrir janelas
Fazer serão
Mas você me navegou
Mares tão diversos
E eu fiquei sem versos
E eu fiquei em vão


1965 © by Editora Arlequim Musical Ltda. Av. Rebouças, 1700 CEP 057402-200 - São Paulo - SP Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil


NOTE:

O amigo e compositor Toquinho lembra como surgiu a primeira parceria dos dois e sua primeira canção gravada em disco:


Eu estava com uma das moças que faziam a coreografia, dançando no show Balanço de Orfeu. Chamava-se Vera, morena, alta, corpo bem-feito. Por sua vez, Chico habituara-se a passar quase todas as noites no teatro, pelo gostinho de ouvir sua música, e às vezes esticava a noite com a gente. Num dos jantares na casa do diretor, na intimidade de uísques e outras fontes de inspiração, enquanto eu tocava uma música, Chico aproveitava o embalo e, brincando com a moça, inventava versos com rimas em "era": "Linda noite que te espera, oh, Vera/ Quisera abrir janelas, fazer serão...". No dia seguin­te, mais sóbrio, organizou melhor a poesia e se surpreendeu: "Mas a letra é boa mesmo! Podemos fazer uma música!".


O nome da musa não é pronunciado na canção, que inicialmente tinha o título de "Primavera", mas ficava subentendido - para quem soubesse da história - pela ênfase dada às rimas em "era".


[Wagner Homem, Histórias de canções - Chico Buarque, Texto Editores Ltda (Leya), São Paulo, 2009, pp. 20-21]