Cabaré

Na porta, lentas luzes de néon
Na mesa, flores murchas de crepon...
E a luz grená filtrada entre conversas
Inventa um novo amor, loucas promessas...

De tomara-que-caia
Surge a crooner do norte
- nem aplausos, sem vaia:
Um silêncio de morte.

Ah, quem sabe de si nesses bares escuros,
Quem sabe dos outros, das grades, dos muros...
No drama sufocado em cada rosto
A lama de não ser o que se quis,
A chama quase morta de um sol posto,
A dama de um passado mais feliz.

Um cuba-libre treme na mão fria
Ao triste strip-tease da agonia
De cada um que deixa o cabaré
Lá fora a luz do dia fere os olhos.


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