Flor da idade

Show "Tempo e contratempo", Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, gennaio/luglio 1974

Para o filme Vai trabalhar, vagabundo, de Hugo Carvana

A gente faz hora, faz fila na vila do meio-dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira festa, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberta, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro copo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja de cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha


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NOTA:

A canção - que faz referência ao poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade - foi composta para o filme Vai trabalhar, vagabundo, de Hugo Carvana, e depois utilizada na peça Gota d'agua. U jornalista Humberto Werneck conta que os homofóbicos profissionais da tesoura viram relações homossexuais na ciranda final em que "Carlos amava Dora que amava Lia que amava Lea que amava Paulo/ Que amava Jucá...", e Chico teve que recorrer ao dicionário para provar que o verbo amar nem sempre tem uma conotação erótica.


[Wagner Homem, Histórias de canções - Chico Buarque, Texto Editores Ltda (Leya), São Paulo, 2009]