Enquanto seu lobo não vem
Gal CostaMaria de Graça Costa Penna Burgos. Salvador, 26/9/1945 - São Paulo, 9/11/2022
(voz)
Caetano VelosoCaetano Emanuel Viana Teles Veloso. Santo Amaro da Purificação, 7/8/1942.
(voz)
Rogério DupratRio de Janeiro, 7/2/1932 - 26/10/2006
(arranjo)
(voz)
Caetano VelosoCaetano Emanuel Viana Teles Veloso. Santo Amaro da Purificação, 7/8/1942.
(voz)
Rogério DupratRio de Janeiro, 7/2/1932 - 26/10/2006
(arranjo)
Vamos passear na floresta escondida, meu amor
Vamos passear na avenida
Vamos passear nas veredas, no alto meu amor
Há uma cordilheira sob o asfalto
(Os clarins da banda militar )
A Estação Primeira da Mangueira passa em ruas largas
(Os clarins da banda militar )
Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar )
Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar )
Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil
Vamos passear escondidos
Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou
Vamos por debaixo das ruas
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das bombas, das bandeiras
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das botas
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das rosas, dos jardins
(Os clarins da banda militar )
Debaixo da lama
(Os clarins da banda militar )
Debaixo da cama
© Warner Chappell Edições Musicais
NOTE:
Uma música muito politica, do periodo tropicalista. É uma incitação às passeatas de protesto — “vamos passear, vamos passear na avenida” — e o verso “há uma cordilheira sob o asfalto” sugere a guerrilha, por causa de Sierra Maestra e de Che Guevara ter saido para a Bolivia. Presidente Vargas é invocado aos brados! Apesar do forte conteúdo político, os censores deixaram-na passar, porque não entenderam nada. No arranjo, Rogério Duprat1 colocou a primeira frase do hino da Internacional Comunista, e ainda há um coro que repete “os clarins da banda militar”, que vem de “Dora”, a canção de Dorival Caymmi, que aqui remete à presença dos militares. Tudo isso junto explicitava ainda mais o conteúdo político da canção, mas a censura não entendeu. Aliás, a esquerda também não entendeu direito, ninguém entendeu muito bem, e quem entendeu fingiu que não.
1. Rogério Duprat (Rio, Rio de Janeiro, 1932) é regente, arranjador e compositor. Radicado em São Paulo, fundou, em 1956, a Orquestra de Càmara de São Paulo. Em 1961, passou a integrar o movimento de vanguarda erudita Música Nova, em São Paulo. No ano seguinte, aprofundou seus estudos na Europa com Pierre Boulez e Stockhausen. Responsável pela maioria dos arranjos para o histórico LP Tropicália ou Panis et Circencis, foi também o arranjador dos principais discos dos Mutantes.
[Caetano Veloso, Sobre as letras, Editora Schwarcz, São Paulo, 2003]
metaforizza l'era delle "passeatas" (marce collettive di protesta) sotto il tallone della dittatura
Vamos passear na avenida
Vamos passear nas veredas, no alto meu amor
Há uma cordilheira sob o asfalto
(Os clarins da banda militar )
A Estação Primeira da Mangueira passa em ruas largas
(Os clarins da banda militar )
Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar )
Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar )
Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil
Vamos passear escondidos
Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou
Vamos por debaixo das ruas
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das bombas, das bandeiras
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das botas
(Os clarins da banda militar )
Debaixo das rosas, dos jardins
(Os clarins da banda militar )
Debaixo da lama
(Os clarins da banda militar )
Debaixo da cama
NOTE:
Uma música muito politica, do periodo tropicalista. É uma incitação às passeatas de protesto — “vamos passear, vamos passear na avenida” — e o verso “há uma cordilheira sob o asfalto” sugere a guerrilha, por causa de Sierra Maestra e de Che Guevara ter saido para a Bolivia. Presidente Vargas é invocado aos brados! Apesar do forte conteúdo político, os censores deixaram-na passar, porque não entenderam nada. No arranjo, Rogério Duprat1 colocou a primeira frase do hino da Internacional Comunista, e ainda há um coro que repete “os clarins da banda militar”, que vem de “Dora”, a canção de Dorival Caymmi, que aqui remete à presença dos militares. Tudo isso junto explicitava ainda mais o conteúdo político da canção, mas a censura não entendeu. Aliás, a esquerda também não entendeu direito, ninguém entendeu muito bem, e quem entendeu fingiu que não.
1. Rogério Duprat (Rio, Rio de Janeiro, 1932) é regente, arranjador e compositor. Radicado em São Paulo, fundou, em 1956, a Orquestra de Càmara de São Paulo. Em 1961, passou a integrar o movimento de vanguarda erudita Música Nova, em São Paulo. No ano seguinte, aprofundou seus estudos na Europa com Pierre Boulez e Stockhausen. Responsável pela maioria dos arranjos para o histórico LP Tropicália ou Panis et Circencis, foi também o arranjador dos principais discos dos Mutantes.
[Caetano Veloso, Sobre as letras, Editora Schwarcz, São Paulo, 2003]
metaforizza l'era delle "passeatas" (marce collettive di protesta) sotto il tallone della dittatura