Este é um livro de guerrilha: o autor defende uma causa que nunca ninguém defendeu. Fala de assuntos perigosos. Apresenta documentos domprometedores. Tira de seus entrevistados revelações suroreendentes, coisas jamais confessadas. Paulo Cesar de Araújo prova, com a análise de documentos inéditos, que um importante capítulo da história do Brasil e da nossa música popular vem sendo muito mal contado. <8>Eu nàao sou cachorro, nàao, remexe em conceitos cristalizados, ao demonstrar que os cantores e compositores cafonas dos anos 70 não eram tão alienados ou adiesistas. Foram censurados inúmeras vezes, tiveram que alterar versos, apanharam da direita, enfrentaram ò exílio, . Por outro lado, a turma da MPB teve sim seus flertes com o regime militar. Aliás, o livro não enxerga a ditadura como um movimento imposto de cima para baixo, acredita que os militares tiveram o respaldo de vários setores da sociedade brasileira. Como se vã, não se trata de um livro sobre música apenas. Tanto é que o auitor não julga o valor estético de qualquer canção citada. A produção musical popular de 1968 a 1978, que vendeu milhoes de discos Brasil afora, foi simplesmente a base escolhida para construir um amplo painel sobre os anos do AI-5. O clima da época percorre todas as páginas. Waldik Soriano fala de tortura. Odair José, de maconha. Luiz Ayrao diz como enganou os generais. Lindomar Castilho conta que foi perseguido pela Igreja, Agnaldo Timóteo lembra seus tempos de Galeria Alaska e revela sua paixão por um homem. Dom e Ravel relatam os problemas que tiveram com a Censura e a luta travada com latifundiarios por causa de uma música sobre reforma agrária. O autor dá voz aos cafonas, mas a MPB – aliás, toda a MP,B - de Pixinguinha a Marisa Monte, de Clementina a Chico Science – também tem espaço. As histórias são curiosas e geralmente vao na contramao do senso :omum. Alguns exemplos: o livro flagra Chico Buarque criticando os exilados Caetano e Gil. Mostra Silvio Caldas e Jorge Ben endossando o governo Médici. Conta em detalhes a farsa nontada para o retorno de Geraldo Vandré ao jaís. Relembra o que se comentava na época sobre o caráter de Elis Regina. O leitor verá Paulinho da Viola chamando Zé Kéti de falso sambista. E vai saber que Odair José fez a música da pílula depois de uma longa noite de papo com o maestro Tom Jobim. Ao unir cafonália e MPB, ao questionar conformismo e resistência e ao confrontar tradição e modernidade no campo musical, Eu não sou cachorro, não livra os cafonas do esquecimento da história. Preenchendo a lacuna mais injusta da memória musical do Brasil.
Paulo Cesar de Araújo, baiano de Vitória da Conquista, é jornalista, historiador e mestre em Memória Social. Trabalha como professor de História no ensino fundamental e médio da rede pública do Estado do Rio de Janeiro.
PS: come complemento al libro è stato pubblicato anche un CD con i brani più significativi |